Trecho de "Lab_arte
e as vértebras
da pedagogia
latino-americana":
"A 'pedagoga latino-americana' que vos fala se chama
Graziele Ferreira. Sou coordenadora do Núcleo Sambaqui. Um dos nossos trabalhos é a atividade de extensão universitária em parceria com o Lab_arte, em que realizamos viagens mensais ao interior de São Paulo como 
exercício de pesquisa didático-formativa
na área da mitohermenêutica.
Fundei o Sambaqui em 2018, desde quando passei a me dedicar mais profundamente aos estudos de cultura popular
a partir do campo de estudos do imaginário.
Sou descendente de um povo indígena que habita o sul do arquipélago no extremo Oriente do planeta. Um povo que se autodenomina uchinanchu, cuja história antecede cerca de 9500 anos a chegada do grupo humano que deu origem à atual ordem geopolítica chamada Japão, que só teve início no século III EC (Era Comum).
Para pesadelo do eurocentrismo brasileiro e sua pauta de embranquecimento e higienismo, defendo a legitimidade das questões de feições orientais presentes no Brasil como questões brasileiras.
Através do Sambaqui, mesmo em meio a muitas rejeições da minha presença tida como estrangeira e a algumas amizades hoje efetivas, tenho experimentado a enorme satisfação em trabalhar com questões que me são familiares e que estruturaram minha trajetória de vida, como trabalho infantil, abandono escolar, violência doméstica, psicológica, sexual, de gênero e das colonizações, herança aristocrática na estrutura das discriminações, precariado e neoliberalismo. Reconhecidamente questões brasileiras, quando vividas por pessoas brasileiras de feições orientais, geralmente são tratadas como discussões alheias à sociedade brasileira e relegadas a um suposto “mundo paralelo dos orientais” no Brasil.Portanto, o trabalho no Sambaqui tem me proporcionado a possibilidade de reclamar a pertinência de uma pessoa de feições orientais tratar de questões que compõem parte importante do DNA cultural brasileiro. Questão tão brasileira quanto minha. Ambas, pluriétnicas afinal."